quinta-feira, 28 de junho de 2012

Ao Guilherme ou à minha futura nora

Filho, nos dias 16 e 17 desse mês aconteceu um evento muito importante que a mamãe gostaria muito de ter ido mas você pegou uma gripe forte e por conta do tempo frio achamos melhor não sair de casa.
Esse evento foi a Marcha do Parto em Casa.
A história resumida é a seguinte: no domingo dia 10 o Fantástico exibiu uma reportagem sobre o parto domiciliar na qual o Dr. Jorge Kuhn aparecia defendendo o parto domiciliar no caso de gravidez de baixíssimo risco.
Quando foi na segunda-feira o CREMERJ fez uma denúncia contra o Dr. Jorge Kuhn e gerou uma revolta em todas nós mulheres que defendemos esse tipo de parto.
Aí através do facebook muitas e muitas mulheres se juntaram e em uma semana organizaram a Marcha do Parto em Casa. A marcha ocorreu em 11 capitais e em algumas cidades do interior.
Porque estou te contando isso filho?
Porque a mamãe espera que esse seja apenas o primeiro passo de muitos para que nós mulheres possamos escolher onde desejamos parir. Espero que quando chegar a sua vez de ser pai as coisas tenham mudado, que você e sua esposa possam escolher livremente onde e como desejam ter o(s) seu(s) filho(s) e que vocês não sejam vítimas desse sistema obstétrico que temos hoje.
Apesar do nome "Marcha do Parto em Casa" a marcha reivindica o direito de ESCOLHA dos pais sobre onde ter seus bebês.
A mamãe descobriu pouco antes de engravidar de você sobre o parto humanizado e mais tarde sobre o parto domiciliar e descobriu que não são a mesma coisa.
Quando li sobre o parto domiciliar não tive dúvidas que era isso que eu queria para mim e para você. Me informei, li tudo que estava ao meu alcance, escolhi uma médica que faz parto em casa e tive a difícil missão de convencer o papai. Foram meses e meses mostrando para ele que era seguro, que existem evidências científicas provando isso, não foi fácil viu?! Ele só se convenceu nos 45 minutos do segundo tempo (se é que se convenceu ou estava apenas atendendo a um pedido meu).
Mas a mamãe tinha lido muito, conversado muito com a médica e parir me parecia algo muito natural assim como comer, ir ao banheiro, etc e portanto não tinha medo algum.
E assim foi conforme a mamãe pensou. Entrei em trabalho de parto aqui em casa num domingo almoçando junto com o papai, a vovó Ilda e o vovô Jeová.
Foi um longo trabalho de parto. Foram 23 horas: 15 horas em casa e 8 horas no hospital.
Mas a escolha da mamãe por um parto humanizado deixou tudo mais fácil.
Durante o trabalho de parto em casa a mamãe andou pela casa, abaixou, levantou, sentou, deitou, entrou e saiu várias vezes do chuveiro, entrou e saiu da piscina que improvisamos na sala, recebeu massagem de uma doula muito querida, abraçou o papai, abraçou a vovó, deu risadas, chorou, comeu muito sorvete de chocolate, comeu castanhas, tomou água de coco, comeu bisnaguinha com leite com chocolate...enfim fui super respeitada naquele momento delicado e recebi muito carinho.
Mas não é isso que acontece com a maioria das mulheres que optam pelo parto normal.
A violência obstétrica é grande e a Marcha também foi por isso.
No parto normal NÃO humanizado as mulheres algumas vezes ficam sozinhas, são obrigadas a ficar deitadas que por experiência própria é a posição que mais dói, são submetidas a inúmeros exames de toque desnecessários, são submetidas à tricotomia (raspagem dos pêlos), à epsiotomia (o famoso pique), à lavagem intestinal, não podem comer nada e nem beber nada.
Você acha filho que isso é parto?? Há inúmeras comprovações científicas que nada disso é necessário. Por isso estou na luta para que minha futura nora não passe por isso e tenha seu parto respeitado.
Além disso tudo no parto normal, muitos médicos induzem mulheres que querem parto normal a fazer cesárea com desculpas como bebê muito grande, cordão umbilical enrolado no pescoço, pélvis pequena, pouca dilatação (mães de primeira viagem demoram de 12 a 16 horas para dilatar totalmente...é uma questão de esperar), falam que vai doer muito enfim fazem qualquer coisa para marcarem uma data e hora para tirarem o bebê e não atrapalhar seus compromissos.
Pois é meu amor, nosso sistema obstétrico é um absurdo e é por isso que a mamãe e muitas mulheres queremos mudar isso.
Continuando sobre seu parto, depois de tanto tempo você realmente não quis nascer e pela saúde da mamãe e pela sua tivemos que fazer uma cesárea. A mamãe aceitou mas com uma condição: que ela fosse humanizada. Isso mesmo...isso existe. Não foi fácil pois o hospital que fomos era péssimo em matéria de humanização.
Assim a mamãe conseguiu ficar com pelo menos um braço solto ( eles amarram os dois braços na cesárea) para poder te pegar, quando foram te tirar da barriga diminuiram a luz da sala para não te incomodar já que você passou tantos meses no escurinho, antes mesmo de cortar o cordão umbilical colocaram você sobre o meu peito para nós nos tocarmos pela primeira vez,  não aspiraram você, não pingaram colírio de nitrato de prata nos seus olhos, a injeção de vitamina K na coxa foi inevitavel mas a mamãe não queria já que pode ser dada em forma de comprimidos.
Você teve todas essas coisas filho pois a mamãe se informou, exigiu que fosse assim e achou uma equipe médica disposta a ouvir os meus pedidos mas, não é essa a rotina adotada nos hospitais.
Por isso tudo Gui que a Marcha foi tão importante, espero um dia no futuro quando você for papai e tudo isso for diferente poder te mostrar as fotos, as notícias e te dizer com orgulho que a mamãe apoiou essa causa.

Um comentário:

  1. Lau me emocionei muito com seu post...e estou com vc nesta luta bjs jussara

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